Raul Seixas, a mosca na sopa

Por João Aurélio

Estive a pensar como a imagem que se vê de Raul Seixas, um ícone da música brasileira, é irreal, incompleta, até ilusória, se avaliada pelo cerne de sua obra.

Quando vejo covers dele, aparece aquele sujeito desengonçado, meio maluco, na rua, que parece não estar nem aí pra vida. Raul não era isso.

Nota-se que há um interesse em esconder do que trata a sua obra musical. Com isso, ele é retratado apenas como “um maluco beleza”.

Isto acontece com ele e com outros artistas, a exemplo de John Lennon, Renato Russo, (e ocorrerá com Zé Ramalho), porque, geralmente, toda cultura de massa é “idiotizante”. E a música de Raul traz muito para refletir.

Nunca vi reportagem sobre Raul – já vi documentário - onde o enfoque seja o conteúdo das letras do artista. É mais comum focar sua irreverência, os problemas por drogas ou coisas do gênero, mas discutir o conteúdo de sua obra, nada!

Estive a ver algumas letras de música e avaliar as áreas em que se enquadram.

Ele foi, irremediavelmente, um contestador. Um pregador que fez de sua música, praticamente uma doutrina. Foi o profeta de sua própria obra. Seus admiradores, mais parecem discípulos que fãs.

Raul, foi o espiritualista “...feito da terra do fogo, da água e do ar...”

O esotérico: “... mas saiba que eu estou em você/mas você não está em mim...”.

Em 1974, época de costumes mais rígidos, com a música “Medo da Chuva”, foi um desbravador de costumes: “...porque quando eu jurei meu amor/eu trai a mim mesmo hoje eu sei/que ninguém nesse mundo é feliz tendo amado uma vez...”.

Na música “A Maçã, diz: “... se eu te amo e tu me amas/e outro vem quando tu chamas/como poderei te condenar(?)/infinita tua beleza/como podes ficar presa/que nem santa no altar...”.

Portanto, vamos combinar?

Quando estiver a observar um cover do Raul, saiba que ele foi um pouco daquilo ali, mas tenha certeza que Raul Seixas foi bem mais.

Ele foi e ainda continua sendo, “A Mosca Na Sopa”...