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Por João Aurélio (escrito em Julho de 2011).
O homem cria
estereótipos como forma de expressar mentalmente uma imagem ou pensamento sobre
alguma coisa. Esses estereótipos são, muitas vezes, preconceituosos.
Lembro que,
certa vez, em 2007, um casal de cariocas me perguntou em que parte do Brasil eu
nascera. Ao responder que era da Paraíba a senhora me disse:
- Fale alto.
Diga com orgulho: Eu sou da Paraíba!
Eu fiquei
realmente surpreso com a atitude daquela senhora, pois se falei baixo assim o
fiz porque é de minha natureza. Ainda mais estávamos numa igreja, pelo que
devíamos silêncio. Se me fosse incômodo dizer que sou paraibano, eu ainda
poderia ter dito que sou de outro estado...
O fato é que
aquela senhora tinha uma imagem bem carregada de preconceito sobre pessoas que
não tivessem nascido nas regiões mais abastadas do Brasil. O que ocorrera
testifica tal fato.
Mais
importante do que aquilo que as pessoas pensam a nosso respeito, é aquilo que
nós pensamos sobre nós próprios. Isto sim é o que faz toda diferença, pois a
partir da idéia que fizermos sobre nós, podemos influir na construção da idéia
que outros fazer a nosso respeito. Se a desfiguram e passamos a acreditar na
imagem desfigurada, perdemos o foco do valor que temos, e isto é desastroso
sobre todos os aspectos.
Diariamente
somos bombardeados pela grande mídia a dizer o que devemos dar valor. As
novelas, quando querem falar de algo que é chique, reportam-se a Paris,
Londres, Nova Iorque, etc. Nos telejornais, quando querem falar de povo
inteligente falam do Japão ou EUA. E não quero dizer que estes países citados não
sejam merecedores daquilo de bom que se diz sobre eles, no aspecto do
desenvolvimento tecnológico, por exemplo. O que retifico sobre a atuação da
mídia é a supervalorização daquilo que é de fora em detrimento daquilo que é
nosso.
Participei,
na década de 90, em Camalaú,
Paraíba, dum seminário sobre desenvolvimento, no qual se falava sobre turismo
na Microrregiãodo Cariri Ocidental da Paraíba. Um dos palestrantes era o padre João Jorge,
de nacionalidade holandesa, o padre que oficiava as missas na Paróquia
de São Sebastião do Umbuzeiro, a qual ainda pertence Camalaú.
Na ocasião, disse-nos que os seus amigos holandeses que visitavam o cariri ficavam
encantados pela região, particularmente, pela culinária, pela beleza natural e
principalmente pelo acolhimento do povo.
O Pe. João
opinava que um projeto turístico aproveitando o potencial do cariri, se bem
feito, atrairia turistas da Europa e de outros lugares. Esse fatores: o calor, a beleza
natural, a hospitalidade do povo, e algumas coisas mais, tudo isso, no seu conjunto, encantava seus amigos e familiares
holandeses.
Já li que o imperador D.Pedro II, quando no exílio na França, dizia sentir saudades do sol do Brasil.
Isto dito por alguém que exerce algum cargo político, a gente até pode achar que
se trata dum discurso poético para agradar ao ouvinte, só que há toda verdade
nas palavras de D. Pedro II, e os 5 anos que vivi em Portugal, me fizeram
entender por que D. Pedro II sentia falta do sol do Brasil e ainda entendi de
forma mais apurada as palavras do padre João.
Em 2007, eu morava em Braga, Portugal, norte daquele país, e para ganhar o pão de cada dia, como diz um amigo meu, trabalhei por alguns meses como
pintor de residências. Trabalho comum entre os imigrantes. Estava dentro da residência na qual trabalhava quando
vi, pelos vidros da janela, alguns raios do sol. Fiquei extasiado! Sai e
sentei-me um pouco, só para apreciar aqueles raios solares. Fiquei ali por
alguns minutos. Naquele momento, apesar da beleza do sol e dum céu
completamente azulado, a temperatura devia estar pelos 3º ou 5º (graus). Um frio de torá, como
falamos no cariri.
Naquela
temperatura ou um pouco mais acima dela, vive-se, no mínimo, 1/4 de ano em
Portugal. Na França costuma ser mais frio. Daí, o porquê D. Pedro II sentir
saudades do sol do Brasil como também é uma das razões dos holandeses adorarem
as terras caririzeiras, de temperaturas mais altas durante o dia e aquela brisa maravilhosa durante à noite. Naquele momento, fiquei a
refletir sobre esses fatos, sobre as palavras do Pe. João e a citação de D. Pedro II.
Isto nos leva
a pensar que a atividade turística na região é algo perfeitamente aplicável. No
entanto, se fala muito nisto e não preparam os munícipes na extensão devida.
Hoje, já vemos
algumas ações quanto ao desenvolvimento de projetos turísticos na região do
cariri. Entretanto, é necessário conscientizar as pessoas sobre o
assunto. As escolas deviam ter mais conteúdo quanto à história regional e
municipal; ter mais atividades extra-curriculares neste sentido. Isto seria bom
para que a juventude nativa conhecesse melhor o lugar que reside e se
preparasse para descobrir as botijas escondidas na sua região. Caso isso não aconteça, vai ter que
percorrer o caminho de Santiago, não o de Compostela, mas o do personagem
Santiago do livro de Paulo Coelho, “O Alquimista”. Santiago após andar “meio
mundo” a procura de um determinado tesouro, descobre que aquilo que procurara
sempre estivera no “terreiro” de sua casa. Portanto, encontremos e arranquemos as botijas da nossa região antes que outros o façam.
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